Veja AQUI várias fotografias deste equipamento que em 20-08-2015 passou para a responsabilidade da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, nos termos do Despacho Conjunto n.º 9.507-A/2015 (DR, 2.ª série, n.º 162).
«Ao tempo [1961], a inexistência
de estabelecimento congénere numa zona onde proliferavam instituições de ensino
(de níveis primário e secundário), colectividades recreativas, muito comércio e
alguma indústria, afigurou-se-me ter cabimento a instalação de um organismo
desta classe, em benefício da população residente ou flutuante.
Vencidas resistências sem conta,
a Junta Distrital acabou por patrocinar a ideia, como meio para “celebrar o
quadragésimo aniversário da Revolução Nacional”, segundo consta da acta da
fundação, em Junho de 1966.
O projecto alcançou, desde cedo,
largo agrado dos escolares e contagiou os adultos, porquanto o horário de
abertura se estendia, ininterruptamente, entre as 9h e 20h dos dias úteis. Um
livro de Desiderata facilitava a
aquisição das espécies apetecidas. A afluência foi engrossando, a ponto de se
formarem filas controladas de espera na portaria, para ocupação dos lugares
que, eventualmente, fossem vagando.
Comecei, depois, a reparar que,
no Jardim Constantino, borboletavam crianças com livros na mão, os quais iam
requerer a rudimentar posto municipal ali existente, na quase totalidade de
conteúdo desapropriado às suas idades.
De imediato requeri a adaptação
de uma das salas a leitura infantil, dotada de espólio e mobiliário adequados.
Desafortunadamente, a Administração (com a honrosa excepção do seu presidente)
não aprovou a iniciativa. Vali-me, com alicerce na minha anterior prática
pedagógica e após consulta pessoal à petizada, da obtenção de livros que
desejariam ler, mas cujas economias familiares lho não consentiam. Acorriam em
bandos, mas com aprumo comportamental e que ternura vê-los, embrenhados nas
suas leituras preferidas, apesar de instalados em cadeiras que não tinham sido
programadas para a sua estatura!
Durou anos, este enlevo. Até que,
nos anos oitenta do passado século, um presidente da Assembleia pôs termo a
esta graciosidade, alegando não apreciar encontrar-se nos elevadores com a
chilreada dos inocentes.
Cresceram, entretanto, os fundo
bibliográficos, estimulados não só por compra, mas, especialmente, por permuta
com publicações – nacionais e estrangeiras – através das nossas próprias
edições.
Com boa reputação e dezenas de
milhar de obras escolhidas, a frequência passou, depois, a ser maioritariamente
universitária dos vários ramos do saber, por aquisição de manuais de maior
vulto financeiro. Estudantes que aqui foram cimentando seus cursos, obsequiados
pela diligência, interesse e saber de funcionários seleccionados, alguns a
frequentarem também cursos superiores. Muitos investigadores procuravam a
Biblioteca, onde encontravam resposta a perguntas que noutros pontos não conseguiriam.
Generalista por natureza, e sem
deixar jamais de o ser, especializou-se a Biblioteca em revistas periódicas,
Estudos Literários, Linguística, Etnografia, História, História da Arte,
Estudos Olisiponenses (estes em grande medida constantes do seu sector
editorial). Esta plenitude manteve-se entre 1966 e 1991. A partir de então, escolhas
de índole financeira uns, de vária natureza os restantes, conduziram-na ao que,
presentemente, se observa. Mas a semente, o húmus, permanecem vivos e válidos.
Qualquer bibliotecário empenhado saberá fazê-la reflorir e frutificar.»
Maria Micaela Soares, diretora
dos Serviços de Cultura, por si criados em 1961, e pelos quais foi responsável até 1991 quando se reformou. Excerto da carta que
dirigiu aos autarcas da Assembleia Distrital de Lisboa, apresentada na reunião
de 17-10-2014 e que pode ler AQUI
na íntegra.
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